“Um ‘tipinho’ chauvinista conversa com um ideólogo reacionário em um bar…”

Kasia Babis

Quem te diz pra fazer isso?

Você quer seguir a moda

Mas se você bebe whisky e soda

Você só passa mal

TRECHO TRADUZIDO DE ‘TU VUÒ FA L’AMERICANO’, DE RENATO CAROSONE (1954)

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Um século na internet é o equivalente a três meses na vida real. Portanto, se hoje eu abordar um tema pautado pelo Twitter na data do meu último post, o Abrigo será rotulado como cringe pelos “jovens”. Se bem que usar o termo “cringe” já é suficientemente vergonhoso após o fim do hype ao redor do termo.

Mas eu não me importo em acometer as pessoas com vergonha alheia. Escrever um blog em pleno 2022 sem nem ao menos ter comprado o domínio já indica o local que eu ocupo na internet: o esgoto da rede mundial de computadores — é sempre bom enfatizar. Ser rotulado de “cringe” é apenas mais um estigma que o Abrigo carrega — em tempos áureos, este blog já foi chamado de kitsch, e hipsters me escreviam dizendo que liam meus textos “ironicamente”. (Hipsters, eles ainda existem?)

Fiquem sabendo que o cheiro de merda que exala do WordPress não é meu. É o cheiro do ralo. Há, de fato, uma vantagem em se morar no esgoto — é a de poder explorar um tipo de conteúdo que nem sempre surge à luz das redes sociais. Não que o esgoto não esteja a céu aberto nos últimos quatro anos. Mas por sorte eu ainda consigo me surpreender quando me deparo com tais ideias. Esta capacidade me ajuda a não naturalizá-las, a não me conformar com sua existência.

O mais engraçado é que eu não as procurei — e acreditem, eu já procurei por certas ideias. De algum modo, algum dos meus textos furou uma bolha que permitiu sentir o odor do ralo com mais intensidade.

Desde que iniciei minha escrita no WordPress acontece de eu ganhar um seguidor por quem eu acabo me interessando. Foi assim que eu conheci o blog da Amanda (e a própria Amanda), o Ideias Desvaneadas. Confesso que sou péssimo em networking, e jamais consegui criar uma rede de blogueiros que impulsionasse o Abrigo. Sou preguiçoso para acompanhar as postagens; nem sempre sinto a necessidade de comentar no conteúdo; enfim, tudo o que faz um texto permanecer vivo e ganhar durabilidade em um contexto de descarte em massa.

Acredito também que exista, de fato, mecanismos que me impeçam de explorar o universo de blogs com mais profundidade. É inacreditável constatar que após uma pesquisa intensa no Google onde eu encontro conteúdo semelhante ao meu, eu acabe por encontrar usuários que me seguem ou que curtiram posts dos blogs que eu acompanho.

Para um exemplo bem esdrúxulo, já “caí” num blog de contos pornográficos. Após algumas visualizações, encontrei o like de uma escritora dona de uma página que eu seguia — mais irônico ainda é que essa escritora estudou na mesma faculdade do que eu e era matriculada no mesmo curso, estando ela um ou dois semestres atrás de mim.

(E, sim, existe muita pornografia no WordPress. Coisa de pouquíssima qualidade, diga-se. Se me fizerem mais perguntas a respeito do assunto, eu acionarei meus advogados.)

Possivelmente a questão tenha a ver com o domínio. Não só o plano gratuito do WordPress é uma espécie de “arrendamento”, como os acessos que recebemos são um “favor” que a plataforma faz para nós. Isto explica os milhares de cliques em certos posts. É estranho que usuários encontrem conteúdo no meu blog, mas não são compelidos a permanecer explorando-o. Um exemplo é minha série de posts sobre escrita de roteiro. É dividido em partes, o que está claro em seus títulos. Porém, o “escritor” curioso para saber como escrever para o cinema, nunca acessa as continuações.

Não que os cliques e as estatísticas que nos orgulhamos seja mentira! Sim, você escreve ótimos textos! Sim, há muita gente te lendo, calma. Mas assim como me foi indicado certas páginas que ocasionalmente eu acabo clicando — gerando, assim, views —, certas palavras-chave fazem meu texto ser sugerido por algum leitor que consome um tipo de conteúdo. Daí existe, vez ou outra, a chance de um de meus textos idiossincráticos furarem a bolha; abrir o ralo do esgoto e intensificar o cheiro de merda presente no WordPress. E na latrina do WordPress encontra-se uma extrema-direita peçonhenta adornada por um eruditismo que em nada disfarça seu cheiro.

***

Lá no início da pandemia, eu ganhei um novo seguidor. Eu sempre acreditei que seguir o trabalho de alguém em uma plataforma significava dar o seu apoio e indicar que você pretende consumir mais de seu material. Portanto, a primeira coisa que faço é analisar o conteúdo produzido pela pessoa para, aí sim, segui-la de volta. Eu nunca fui fã do “SGDV” em meus tempos de Twitter e não seria no WordPress que eu faria essa “chantagem” com outro usuário.

O seguir não me obriga a concordar com o escritor em tudo o que ele posta. Em meu caso, está mais relacionado com o tema que ele aborda e a forma como ele aborda. Perspectivas antagônicas às minhas em temáticas que me interessam sempre me instigou.

Talvez o blogueiro que me seguiu no início da pandemia não tenha este “filtro” na hora de seguir um blog — “seguir” alguém na internet, claro, não é sinônimo de acompanhar de fato o trabalho da pessoa. Porque, dada a discrepância entre os textos que escrevíamos, tenho convicção que esse blogueiro não fez mais do que uma análise superficial ou do texto de minha autoria que ele encontrou ou mesmo do meu blog como um todo.

Sei disso porque no decorrer da trama que quero narrar, minhas estatísticas — em declínio acentuado nos últimos meses — tiveram um pico abrupto naquela fatídica tarde. Houve muitos acessos a posts, mas pouco tráfego de usuários. Isso significa que um único “IP” estava examinando meu abrigo. Em minha cabeça, o tal blogueiro queria descobrir como aquele “tipinho” conseguiu entrar em seu mundo particular — mal sabia que fora ele mesmo que abriu a porta para o “esquerdista chauvinista”.

Mas veja só. Eu ainda não apresentei o nosso escritor para vocês. O fato indica que estou pouco preocupado em revelá-lo. Ele não cometeu um tipo de crime que deve ser exposto. Tampouco acho que ele merece palco. Apesar de que, diferente do que ele acha, minha crítica é ao que ele escreve; à mensagem incorporada em seus textos; à maneira como ele transverte moralismo em literatura. Até onde sei, aqui no Abrigo não existe uma categoria dedicada à crítica literária. Por ora. Mesmo que houvesse a partir de hoje, não seria com um livro dessa pessoa que eu começaria minhas resenhas. Chamemo-nos, então, de Roberto Reis. Vulgo “R.R”.

A primeira crônica que li de R.R. falava a respeito de um imbróglio que alguém próximo a ele teve com a polícia rodoviária federal. Há, de fato, um pesar pela pessoa ter sofrido diversas humilhações. O tom do texto era de um ressentimento muito bem justificado.

Mas aí é que mora a armadilha na qual eu teria que me desvencilhar com muita frequência ao longo de um ano de leitura. Após expor a situação, que te toca pela proximidade do envolvido com o narrador, começa a surgir flashes que, pouco a pouco, vão sinalizando o que de fato R.R. defende. Muito difuso, mas nítido numa leitura atenta, encontrava-se a defesa do Estado mínimo; a satanização do setor público; uma certa confiança ingênua no mercado; a meritocracia; enfim, toda a liturgia direitista defendida pelo “pato da FIESP” no decorrer do impeachment de Dilma, em 2016.

Ainda assim, continuei lendo o blog com curiosidade. Afinal, aquele era uma crônica passional. Em textos raivosos como aquele, é normal defender um grau de violência que extirpe a causa de sua desgraça — no caso, o Estado.

A leitura se tornou interessante quando passei a explorar os contos publicados no blog. Graças a essas leituras, eu acabei fazendo uma defesa ao gênero no texto Como escrever um conto, rechaçando seu uso “indevido”: “Me incomodo mais quando a ficção vira o receptáculo de nossos sentimentos enviesados. Nestas ocasiões, vejo nitidamente um conto ganhar um teor propagandístico: o autor coloca na boca de seu personagem sentimentos que ele carrega; é uma espécie de autoficção intolerante que, justifica o autor, não deve ser levado tão a sério — ainda que ele se encante quando um conto erótico se torna, aos olhos de outros, a confissão de uma traição passada”.

Em seus contos, R.R. pesava a mão num moralismo maniqueísta. Seus personagens eram divididos entre “homens materialistas” e “homens espirituais”. O conto não é nada além do que diálogos ultraexpositivos que revelam a identidade dos personagens. Há também casos em que a história se desenrola numa conversa entre dois homens com perspectivas parecidas onde um diálogo completa o outro — os temas, aliás, giram em torno de mundanismo, espiritualismo e mulheres.

Nota-se, no decorrer da leitura, a falta de cadência e naturalidade das frases ditas pelos personagens. As ideias não são orgânicas ao ambiente evocado — em especial porque R.R. não se ocupa em criar uma atmosfera: ele é econômico no sentido mais pejorativo do termo. Não se trata de uma má literatura pela falta de qualidade na escrita. R.R. tem domínio das palavras; sabe como manejá-las. A questão é que R.R. não é um ficcionista, e nem quer sê-lo. Suas histórias querem deixar explícito seu ponto de vista como pessoa. Eu diria que ele escreve fábulas, até o momento em que passa a inserir a questão religiosa — a partir deste ponto, ele tenta escrever parábolas de um Novíssimo Testamento que consegue misturar teologia, coaching e liberalismo num mesmo bolo de ideias.

Não é tão difícil desvendar essa mistura. Basta ir em busca dos posts mais velhos. R.R. escreve desde 2015; tornou-se mais assíduo entre 2017 e 2018. E é em 2018 que R.R. deixa explícito de onde ele tira suas caraminholas.

Um de seus textos é ilustrado pela Bandeira de Gadsden, símbolo utilizado pela ultradireita estadunidense. Nele, R.R. comemora a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder; a “liberdade” que o feito poderia trazer para o Brasil. Mas R.R. pavimentou bem seu caminho até se tornar um bolsonarista arrependido: não demora muito para alguns posts exporem sua falta de fé na política — de fato, o tema some das postagens seguintes. No decorrer dos anos, R.R. passaria, assim, a focar na automotivação; no crescimento pessoal por meio de uma vida com “significado”.

Seu ideário passa a ganhar corpo com a criação de sua plataforma de em que ele assume o papel de coach — interessante é que em um de seus contos, um personagem ridiculariza palestras motivacionais. Segue-se a isso seu podcast publicado toda a semana.

R.R. é um holista. Ele abarca tudo sob seu guarda-chuva ideológico. Ora R.R. parece querer ser um escritor que vira exemplo por causa de seus feitos, ora ele apela para uma linguagem comumente encontrada em palestras corporativas que visam empoderar seus “colaboradores”. A prova disso é a variedade de tema de seus livros autopublicados. R.R. lançou um romance de gênero; um livro intimista sobre sua vida; e o mais recente é um receituário sobre o amor.

***

Nota-se que R.R. tem muita ambição, que não é um simples blogueiro com ideias que vez ou outra publica em seu espaço pessoal. R.R. quer tornar seu nome uma marca. Ele dá testemunho de si mesmo. E eu o acho perigoso. Pois grande parte de seu conteúdo é de um senso comum conservador que ele confunde com sagacidade. R.R. acredita que trazer a público suas opiniões é um ato de coragem; afinal, ele é “politicamente incorreto”; o que ele defende vai de encontro ao estabelecido.

Se não estivéssemos em tempos de exceção, num vácuo político pós-ruptura institucional, talvez R.R. seria uma voz dissonante dos demais. Eu queria que ele soubesse que não é. Por isso, um ano depois de lê-lo em detalhes, decidi comentar em um de seus posts.

Tratava-se de uma crônica em que R.R. falava sobre a “lacração”. Para ele qualquer discurso identitário explorado pela mídia é mero coitadismo; negação da verdade; conspiração esquerdista com o claro objetivo de destruir os “valores tradicionais”.

Foi um raro caso em que R.R. deixou aquela sua pompa erudita —um pedantismo irritante com referências que vai de Jordan Peterson a Santo Agostinho e a Bíblia. Sua opinião contundente se deve ao fato de que ele, nos últimos anos, vem tentando ser verdadeiro em sua vida. Assim, não havia mais como tolerar a lacração e/ou deixar de esconder sua opinião sobre as questões.

Assim, eu escrevi que era “interessante você se dizer adepto da verdade em seu modo de escrever e viver, mas em busca dessa ‘verdade’ seu único esforço foi fazer uma pesquisa rápida sobre o tema. Para um escritor, te sobra convicções e lhe falta um pouco de curiosidade. Quando a mídia e grandes conglomerados começam a ‘discutir’ sobre racismo e outras discriminações, é mesmo de se questionar quais seriam seus interesses. Mas na sua ânsia de soar verdadeiro, você acaba caindo na liturgia conservadora; num culto ao senso comum[…]”.

Recebi uma resposta alguns minutos depois. Gosto de acreditar que, dali em diante, mantivemos uma discussão madura e saudável. Pelo menos esses eram os termos que eu acreditava estar trazendo para a conversa com minha primeira intervenção. Logo, fui chamado de “sabichão da profundidade, da inteligência e da opinião ‘fundamentada’”.

Ele se saiu melhor ao pedir para eu mostrar “toda [minha] magnanimidade”. Por um momento, pensei que R.R. queria uma foto minha com nudez frontal total. Mas depois que ele fez um trocadilho com o nome do meu blog, decidi que jamais mostraria meu pau para ele: “Tudo o que você escreveu me soa como alguém ressentido, que não sabe bulhufas sobre a vida real, que se enfurna em seu ‘abrigo’ e finge uma pose de intelectual para encher o seu ego frágil”.

O que R.R. não sabia é que eu tinha lido grande parte de seu conteúdo. Então, enquanto ele permanecia no campo moral, questionando até minha sanidade ao oferecer seus serviços como analista — já que ele “ajudou muitos […] do [meu] tipinho” —, eu o confrontei com suas próprias ideias; expondo o que de fato significava seu trabalho.

“Ressentido com o que exatamente[…]? Então qualquer opinião que te contrarie é apenas fragilidade emocional? A sua resposta, sim, foi temperamental e, sem querer ser pedante diante de um ‘doutor’, demonstra pouquíssima inteligência emocional.

“[…] Para alguém […] com a tendência à reflexão, como diz um de seus textos, houve pouca possibilidade de você fazê-lo. Qual não será sua reação diante de alguém que te questione em uma palestra?

“Eu também identifico o seu ‘tipinho’ quando você cita Olavo de Carvalho em algum texto. Ou você não consegue lidar com a verdade que este senhor representa?

“Sim, risível. Quando você escreve um texto baseado em achismo e trata sua opinião como verdade absoluta, o mínimo que eu posso fazer é rir.

“[…] Você é uma figura pública […], e ao expor sua opinião deve estar aberto ao antagônico. Ao não aceitar possibilidades que vão além de sua opinião, você se torna um ideólogo. E isso você já é. Basta ler seus contos publicados aqui no blog: todos carregam uma lição de moral que expõe não a natureza de seus personagens, mas sua própria opinião adornada pela ficção. […] [Há uma] seção [que] só recebe perguntas [de leitores] com temas anteriormente debatidos em outros textos, como que escadas que permitem você ampliar sua visão.

“E eu que estou preso num suposto esquerdismo ideológico? Eu que estou preso do lado de fora da ‘vida real’? Quando sua bolha de leitores estoura, você não sabe como reagir. Rotula, apesar de me acusar de fazê-lo, com adjetivos que te deixam seguro. […] Sou eu que preciso de terapia? […] Agradeço o oferecimento de seus serviços. Não os utilizarei. Alguém que julga uma crítica como ressentimento e — mais uma vez usando seus textos como base — timidez como ego inflado e coisas do tipo, fico temeroso com o tipo de terapia que você pode oferecer”.

Sem saber muito bem com reagir, R.R. não rebateu nenhuma de minhas críticas; optou por me questionar com uma pergunta perspicaz: por que diabos eu o lia compulsivamente se não concordava com nada que ele falava?

Porque é normal que no primeiro “desvio” que um autor de não-ficção cometa em uma opinião, a gente jogue o livro fora, pare de ver o vídeo, feche a aba do navegador por não concordar com ele.

Mas eu me encontro numa fase em que busco respostas, e ao fazê-lo acabo por tentar ouvir vertentes de pensamentos que eu rechacei ao longo da vida. Por que não unir o melhor de cada lado? Por que não tentar equilibrar nosso radicalismo numa conciliação que abarque as mais diferentes opiniões?

Porque eu me recuso a acreditar que Carlos Pilotto esteja certo em um único ponto de vista se quer.

Carlos Pilotto é um adolescente autorreferido conservador, que fala de política e investe na bolsa de valores. O garoto é filho de um milionário, mas fala em meritocracia. Denuncia a doutrinação da esquerda citando Felipe Netto com um expoente revolucionário. Defende o livre mercado argumentando que o iate do cantor Gustavo Lima “gera valor, emprego, e ajuda muitas pessoas”.

E eu também posso passar horas ouvindo-o. Porque quando você testemunha um acidente de trem colossal, você não pode parar de olhar — é instintivo; é algo tão errado que absorve qualquer outro detalhe existente. Ler e ouvir Roberto Reis é ter o vislumbre do futuro de Carlos Pilotto: a imaturidade intelectual será a mesma.

Talvez eu esteja fingindo “uma pose de intelectual para encher o meu ego frágil”. Talvez eu tenha ficado tempo demais neste Abrigo. Mas sabe, R.R., quanto mais eu acumulo textos neste arrendamento entorno do esgoto; depois de todos os meus retornos após hiatos de meses sem escrever; depois de questionar meus ideais e princípios; depois de tentar absorver boas vibrações das pessoas que eu admiro; quanto mais eu reescrevo meus textos; quanto mais eu busco entender o que não me é lá muito claro; mais longe de sua rigidez eu fico. Mais eu me afasto deste monolito que se tornou seu conhecimento: impenetrável, sólido, parado no tempo e no espaço, bruto, tentando se acomodar em uma realidade diametralmente oposta ao que você acredita. Mesmo suas percepções me fizeram pensar, acredite. E foi com elas que eu percebi que eu não temo perder minhas certezas. Mas e você, o que será sem as suas?

Um comentário em ““Um ‘tipinho’ chauvinista conversa com um ideólogo reacionário em um bar…”

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